A cadeira vazia

Uma amiga me contou outro dia, uma história interessante. Contava que um dia há alguns anos, estava numa fase contemplativa e de autoconhecimento, e teve aqui na cidade um show de um cantor que ela adorava. O cantor estava em início de carreira, mas o show estava bem frequentado. Não estava lotada a platéia, havia alguns lugares vazios. Ela me contava com certa amargura que não conseguiu sequer uma amiga que pudesse acompanhá-la ao evento. E como estava sem namorado, resolveu ir só mesmo.
O teatro foi enchendo, e na plateia quase cheia, justamente ao seu lado, ficou um lugar vazio. E isso a incomodava. Pessoalmente, fiquei feliz de saber que eu não sou a única pessoa a me sentir rejeitada quando fica uma cadeira vazia ao meu lado. Dá uma tremenda sensação de vazio. Poxa, mas logo ao meu lado, ninguém quis sentar? Sei lá, chame de grilo, paranoia, mas que essas ideias me batem, me batem. Que bom que não sou eu que penso assim.
Ainda que triste, qual não foi sua surpresa quando durante o show, o cantor desceu do palco, com uma rosa nas mãos, e cantando em sua direção sentou-se na plateia justamente onde? No único lugar vazio que havia. Ao lado dela. Cantou pra ela. Deu a rosa a ela. Dedicou alguns minutos do show para ela. E isso a fez sentir-se especial.
Imediatamente, lembrei do que aconteceu numa viagem que fiz com um grupo de amigos. Meus amigos foram se instalando nos primeiros acentos do ônibus, e eu fui indo pro final, pro final. Parecia automático, as pessoas foram sentando e eu me senti impelida pra o fundão do ônibus. Lá avistei uma amiga, que estava sentada no acento do meio, dos cinco mais elevados que ficam no fundo do ônibus, fui e sentei ao lado dela. Só que o amigo que ia com ela, resolveu ir no outro ônibus e ela se desculpou e foi atrás dele. Eu fiquei com a quela sensação de: Poxa!Sobrei!
 E as pessoas vinham chegando e sentando mas o lugar ao meu lado permanecia vago. Pensamento de rejeição outra vez. O ônibus ia partir, o líder da excursão subiu a bordo, fez uma breve oração. E anunciou que iria conosco, ao lado do motorista.
Resolvi que não ia perder minha viagem por isso, saquei meu mp3, fones no ouvido, me encolhi na cadeira e me preparei pra a viagem. Procurei desencanar. Foi então que a pessoa que eu mais queria que se sentasse ali naquele lugar, o cara que todas queriam, “o rei sol”, o astro do meu dia, veio andando em direção ao fundo do ônibus, e sentou-se ao meu lado, fomos conversando por todo o caminho, ele brincando com minhas mãos, fazendo carinhos, sussurrando besteiras, maior clima de romance. A viagem foi inesquecível. Brincou que na volta, à noite, não queria mais que aquele lugar fosse ocupado, pediu que eu guardasse seu lugar, pois já era dele, o lugar ao meu lado. Naquele momento, era tudo o que eu queria. A pessoa que eu mais queria, aquele que no momento era “o cara”, ficou ali ida e volta ao meu lado. Como toda idealização, toda ilusão, não se sustenta por muito tempo e a fantasia acabou com a viagem, mas saí dali, mais que satisfeita com meu dia.
Me perguntei o que teria acontecido se minha amiga tivesse ficado sentada ao meu lado. Ele não teria tido a chance de sentar comigo, não teríamos nos divertido tanto.
Às vezes me aborreço, reclamo com Deus por não ter nesse momento alguém ao meu lado, pra ir ao cinema, pra trocar beijos carinhosos, pra me aninhar nos braços, pra trocar afeto. Me sinto só e rejeitada, como quando com aquela incômoda cadeira vazia ao meu lado.
Então pensei: Tem horas que a cadeira ao seu lado tem que estar vazia, pra que alguém especial possa chegar, sorrir e sentar.
By Cris Vaccarezza

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